Sua gentileza disfarçada de vergonha por não gostar
mais de mim. A maneira que você tem de pedir perdão por ser mais um cara que
parte assim que rouba um coração. Você é o mocinho que se desculpa pelo próprio
bandido. Finjo que aceito suas considerações mas é apenas pra ter novamente o
segundo. Como o segundo do meu nariz na sua nuca quando consigo, por um
segundo, te abraçar sem dor. O segundo do seu nome na tela do meu celular. O
segundo da sua voz do outro lado como se fosse possível começar tudo de novo e
eu charmosa e você me fazendo rir e tudo o que poderia ser. O segundo em que
suspiro e digo alô e sinto o cheiro da sua sala. Então aceito a sua enorme
consideração pequena, responsável, curta, cortante. Aceito você de longe.
Aceito suas costas indo. Aceito o último cacho virando a esquina. O último fio
preso no pé da minha cama. Não é que aceito. Quem gosta assim não come migalhas
porque é melhor do que nada, come porque as migalhas já constituem o nó que
ficou na garganta. Seus pedaços estão colados na gosma entalada de tudo o que
acabou em todas as instâncias menos nos meus suspiros. Não se digere amor, não
se cospe amor, amor é o engasgo que a gente disfarça sorrindo de dor. Aceito
sua consideração de carinho no topo da minha cabeça, seu dedilhar de dedos nos
meus ombros, seu tchauzinho do bem partindo para algo que não me leva junto e
nunca mais levará, seu beijinho profundo de perdão pela falta de profundidade.
Aceito apenas porque toda a lama, toda a raiva, todo o nojo e toda a indignação
se calam para ver você passar.
Tati Bernardi
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