É intensa a vida de quem corre na chuva, sem desviar das poças d’água. É
imprevisível, a vida de quem caminha sem medo de escorregar, de olhos fixos no
horizonte, desatento às pedras no chão. Os tombos viram cicatrizes e, em
seus pontos recém costurados, se pode ler uma porção de coisas. E entre “não
faça isso” e “faça aquilo”, a gente passa a caminhar por estradas cada vez mais
estreitas, quase claustrofóbicas. São tantas as lições que a vida nos dá, que,
por vezes, vemos nosso mundo se restringir a minúsculos cubículos cercados por
instransponíveis muralhas. Assim a gente pára de caminhar, e passamos a viver
em um eterno ciclo repetitivo. E é quando essa situação se transforma numa
chaga insuportável, a gente apalpa as próprias costas e descobre que somos
dotados de asas. Lá de cima, a gente pode acompanhar todos os caminhos que
deixamos de percorrer, por medo de colecionar novas - e mais doloridas -
cicatrizes. Tomados pelo arrependimento, descobrimos que nossa estrada não é de
duas mãos.
- Lucas Silveira
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