Quando eu saí de uma importante depressão, eu disse a mim mesma que o
mundo no qual eu acreditava deveria existir em algum lugar do planeta. Nem se
fosse apenas dentro de mim… Mesmo se ele não existisse em canto algum, se eu,
pelo menos, pudesse construi-lo em mim, como um templo das coisas mais bonitas
em que eu acredito, o mundo seria sim bonito e doce, o mundo seria cheio de
amor, e eu nunca mais ficaria doente. E, nesse mundo, ninguém precisa trocar
amor por coisa alguma porque ele brota sozinho entre os dedos da mão e se
alimenta do respirar, do contemplar o céu, do fechar os olhos na ventania e
abrir os braços antes da chuva. Nesse mundo, as pessoas nunca se abandonam.
Elas nunca vão embora porque a gente não foi um bom menino. Ou porque a gente ficou
com os braços tão fraquinhos que não consegue mais abraçar e estar perto. Mesmo
quando o outro vai embora, a gente não vai. A gente fica e faz um jardim,
qualquer coisa para ocupar o tempo, um banco de almofadas coloridas, e pede aos
passarinhos não sujarem ali porque aquele é o banco do nosso amor, do nosso
grande amigo. Para que ele saiba que, em qualquer tempo, em qualquer lugar,
daqui a não sei quantos anos, ele pode simplesmente voltar, sem mais
explicações, para olhar o céu de mãos dadas.
Rita Apoena
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