”(…)
Tenho uma vida ótima. Mas nenhuma dessas coisas se comparava ao prazer que eu
tinha ao ouvir o barulhinho de uma mensagem dele chegando. Ou de quando o
porteiro dizia seu nome e o meu coração disparava tanto que eu tinha medo de
morrer antes de o elevador abrir a porta. E olhar para ele, com o seu
sorriso misturado de pior e melhor pessoa do mundo. E olhar o brilho dos seus
olhos sem saber se vinha da alma ou da lente de contato. Enfim: olhar e me sentir
errando tanto e acertando muito. Isso tudo fazia valer os últimos dez, quinze
ou quarenta dias sem saber se ele estava ou não vivo. (…) Mas aí resolvi
começar o ano fora dessa palhaçada. Essa não parece a história de uma mulher
esperta ou que merece uma história melhor. Quem pode cobrar da vida uma
história de verdade se fica alimentando uma coisa desse tipo? Chega. (…) Por
isso, com muito custo, chacoalhei minhas mangas. E só eu sei o quanto doeu ver
a melhor coisa do mundo indo embora. Doeu um, dois dias. No terceiro, a melhor
coisa do mundo virou a melhorzinha. Que virou a décima melhor. Que não virou
nada.”
Tati
Bernardi
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